quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Jogos Divertidos


O diretor alemão Michael Haneke é famoso por fazer filmes perturbadores. Haneke, além do dirigir escreve os roteiros dos filmes. Extremamente bem elaborados, ele explora a psique e o comportamento humano, ao mesmo tempo que critica o comportamento social, através de personagens marginais ou com distúrbios. É um cinema de estranhamento, pois é a através do choque que o espectador toma consciência de sua crítica social e começa a apreciar o filme. Mas seus não são para qualquer um.

Haneke é mais conhecido por aqui pelo soberbo e inquietante A professora de piano. Parte do sucesso do filme aqui e lá fora se deve a atuação impecável de Isabelle Huppert, que consegue convencer a todos de seu comportamento muito peculiar. Seus filmes chegam no Brasil principalmente através de festivais de cinema, onde o público está mais preparado para surpresas e filmes mais elaborados.

Funny Games, de 1997, foi um de seus fimes exibidos durante festivais de cinema por aqui e até chegou a entrar em cartaz em poucas salas. O filme causa desconforto não só pelas cenas de violência, mas pela impotência do espectador diante dos eventos. A crítica social de Haneke começa já no título: os jogos são basicamente jogos sádicos criados pelos dois sociopatas que invadem uma casa, tomando o casal e o filho como reféns. O desconforto nesse filme é principalmente causado pela sensação que o espectador acaba tendo de cúmplice das ações dos dois jovens, uma vez que o diretor passeia o tempo todo entre a fina linha entre a realidade e ficção.

Mas ao que parece, o destino dos filmes de Haneke está para mudar. Seu novo filme é uma re-filmagem deFunny Games, com o mesmo título Funny Games, rodado nos Estados Unidos. Filme, considerado cinema independente por lá, tem no elenco Naomi Watts, Tim Roth, Brady Corbet e Michael Pitt, famoso por interpretar adolescentes perturbados em filmes e séries de TV. Pelo trailer, a essência do filme parece ter sido mantida. Agora basta esperar o filme para conferir se isso se muita coisa mudou ou não nessa versão. A data prevista para estréia nos cinemas americanos é 15 de fevereiro de 2008, mas o site oficial ainda não está no ar.


sábado, 10 de outubro de 2009

Para inspirar.

A video-instalação consiste na criação de ambientes visuais, aplicados numa determinada arquitectura, e pode ter uma intensão decorativa, informativa e/ou promocional.Neste dominio Video House Stars recorrem ao video, slides, e por vezes ao som intervindo num determinado espaço, consoante o objectivo na instalação.
Participaram em várias edições do evento Caldas Late Night - 2001, 2002, 2004, 2005 e 2006.Entre 2002 e 2004 realizaram video-instalação urbana de exteriores com projecções video em edificios, intervindo nas arquitecturas de rua e com o público, em Caldas da Rainha.Conceberam video-instalação para vários bares. A destacar as intervenções no SAL Lounge bar na Figueira da Foz , Bicaense em Lisboa e no Clinic em Alcobaça. Também no The Office Club (Caldas da Rainha) desenvolveram todo o suporte visual - video-instalação com slides, spots tv e outros conteúdos video - durante 2005-2006.No Festival de animação Monstra (edições 2005 e 2006) que decorreu no Teatro Maria Matos em Lisboa conceberam 'Animalounge' - video-instalação e lounge dj set.
Produziram a video-instalação para a inauguração da loja AveiroMeuAmor.
Este video-reel reúne filmagens de intervenções na vertente video-instalação entre 2002 e 2005.

Visitem o site de onde tirei esse material. Excelente.

http://www.videohousestars.com/video-instalation_pt.php

Comentem!!!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009


Björk fala sobre "Dançando no Escuro".

Você já disse que rodar Dançando no Escuro foi uma experiência tão traumática que provavelmente não fará outro filme como atriz. Por que decidiu atuar?
Sou definitivamente uma workaholic. Quando algo me atrai, não me importo com o grau de dificuldade. Nunca pensei em atuar, mas a atmosfera criativa neste filme prometia ser tão vibrante que decidi abrir uma exceção.

Porém, particularmente, não achava que estava atuando. Era mais o caso de amar minha personagem e tentar defendê-la. O fato de achar que não devo atuar novamente não tem nada a ver com o filme. Isso é como me sentia antes de trabalhar com Lars (Von Trier). Quando aceitei fazer o filme, já sabia que seria uma experiência bem hardcore. Foi a mesma sensação de quando fiz meu primeiro álbum-solo. Tinha uma coisa meio pioneira e isso é o que faço de melhor. Quando começa muita repetição no trabalho, eu murcho. E devemos agradecer a Deus que existam muitas pessoas aí fora com vontade de repetir as coisas. Acho que nasci com a sina de desbravar novos territórios.

A princípio, seu trabalho seria apenas o de compor a trilha sonora do filme. Como foi convencida a se tornar a atriz principal também?
Quando li o roteiro, me apaixonei por Selma a ponto de chorar a cada dez páginas. Foi uma reação muito maternal. E rapidamente escrevi as canções. Acordava de manhã totalmente complacente em emprestar o meu subconsciente a Selma. Foi a primeira vez que fiz isso em minha vida: compor assumindo uma outra persona. Quando fui encontrar-me com Lars em sua casa de campo na Dinamarca, éramos só nós dois a debater as canções e o drama de Selma. De repente, eu incorporei o coração e a alma dela. Menos de um ano depois, estava rodeando a personagem como um satélite em órbita ao redor da Terra. Quando Lars veio com a proposta para eu interpretá-la, foi bem específico: "Por favor, não atue. Detesto gente interpretando." Mas, apesar de ter muitos anos de experiência em videoclipes, eu sou muito naif como atriz. E eu meio que me tornei Selma para Lars. Por vezes, me sentia num jogo de cabra cega ou tendo a mesma sensação dos pioneiros chegando à Antártida no começo do século. Era muita voltagem correndo pelo meu corpo.

Existe a lenda de que Lars Von Trier pode ser muito brutal com seus atores. Como ele dirigiu você e até que ponto essa imagem dele de déspota no set é verdadeira?
Nunca fiz nada do gênero antes, então é difícil comparar. Muita gente me disse que o que tentamos em Dançando no Escuro nunca foi feito antes. Mas acho que sou um pouco cabeça dura e muito auto-suficiente. Sou extremamente determinada, a ponto de você achar que sou uma tola. Podia pular de um abismo sem problemas, caso uma cena assim exigisse. Mas fazer-me repetir a mesma cena duas vezes me trazia imensa dor. Nós filmamos por 18 meses. E não sabia muito bem as cenas que seriam rodadas no dia. Perguntava sempre para Lars: "Posso ler o script de hoje?" E ele sempre dizia que não.

Então, acordava de manhã reagindo emocionalmente como Selma.

Depois desse período de animosidade, como está o relacionamento entre vocês?
Por sermos muito diretos, honestos e cabeças-dura, a gente nunca deixava uma desavença para depois. Tínhamos um problema às 10 horas da manhã, mas, às 11, depois de resolvermos nossas diferenças, já estávamos trabalhando. Se não havia um consenso entre nós, não havia trabalho. E posso dizer que terminamos de rodar o filme muito antes do prazo. Mas o problema é que muita gente no set não entendia o que estava se passando. Lars trabalha como um doido. E ele é muito inconstante. Podia estar rodando de uma maneira, mas, depois de receber a visita de sua mulher no set, ele voltava e fazia tudo completamente diferente. Somente Lars e eu sabíamos o que realmente estava acontecendo com aquela personagem.

Dê o exemplo de uma desavença entre vocês.
Na cena em que descubro que meu vizinho roubou o dinheiro da operação do meu filho. Lars começou a rodar meu confronto com o vizinho.

Minha reação instintiva para Selma foi a de tentar argumentar, fazê-lo mudar de idéia e devolver a grana. Lars ficou possesso. "Björk, isso está errado.

Suba a escada correndo e meta dois tiros na cabeça dele." Foi difícil chegar ao meio-termo do que acabou ficando a cena.

Como foi montar a trilha sonora tendo Lars Von Trier também como parceiro?
Sempre acho legal quando um compositor me contata, dizendo que escreveu algo especial para mim. Escrevo as letras e melodias de minhas canções desde pequena. E é uma sensação libertária ser usada como ferramenta de alguém. Para falar a verdade, eu acho que os músicos cantam melhor quando estão interpretando canções de outros compositores. Mas minha experiência com Lars foi bastante aturdida. Fui à casa dele várias vezes e minha sensação era de que ele estivesse apontando uma arma para mim e eu tendo sempre de virar o cano para outra direção. Lars e eu não temos nada em comum. Tudo entre nós é o oposto completo. O 1% de sintonia que tínhamos foi o que fez o projeto ganhar um forma mais humana.

Depois do prêmio de melhor atriz, que você ganhou em março no Festival de Cannes, agora se fala no Oscar. O que acha disso?
(risos) Posso assegurar-lhe que ainda não processei muito bem essa história da Palma de Ouro. Não sei o que dizer. Verdade! Teve momentos, no meio das filmagens, em que eu achava que não iria durar o resto do dia. E ninguém estava pensando em prêmios. A Palma de Ouro aconteceu e foi o mais gratificante possível.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Mulholland Drive - É para ter sentido ou ser sentido?



Dez dicas para se entender "Mulholland Drive"
por David Lynch

Em um texto especial para o jornal inglês The Guardian, o diretr David Lynch, também autor do roteiro, elaborou dez pistas sobre Cidade dos Sonhos.

1) No começo do filme, antes dos créditos, duas pistas são reveladas.

2) Fique atento para o que está escrito no luminoso vermelho.

3) Qual o título do filme, para qual o personagem Adam Kesher está realizando teste de elenco? Ele será mencionado mais uma vez durante CIDADE DOS SONHOS?

4) O acidente é um importante acontecimento em CIDADE DOS SONHOS. Onde ele acontece?

5) Quem entrega a chave azul e porque?

6) Fique atento para o roupão, o cinzeiro e a caneca de café.
7) Qual mistério é revelado no palco do "Club Silencio"?

8) Somente o talento de Camilla pode ajudá-la?

9) Fique atento para o objeto que está nas mãos do estranho homem que vive perto da lanchonete "Winkie"!
10) Onde está tia Ruth?


Minha observação: Não se pode confiar em David Lynch. Com essas dicas ele pode estar querendo mais confundir do que esclarecer. Ou não. rs


Neste site tem uma entrevista sobre um brasileiro que fez uma tese sobre as obras do David Lynch. Vale à pena dar uma olhada.

http://www.cinequanon.art.br/entrevistas_conteudo.php?iden=1&%20idli=1&take=1


Irreversível - O Tempo tudo destrói.


O delinqüente juvenil Alex de Large (Malcolm McDowell), do clássico “Laranja Mecânica”, era obcecado por ultraviolência. O filme de Stanley Kubrick, feito em 1971, expunha a preocupação diante de um futuro social que se anunciava cada vez mais violento. Em termos cinematográficos, de um ponto de vista visual, a era da ultraviolência chegou em 2002, anunciada por um longa-metragem francês polêmico e instigante: “Irreversível” (Irreversible, França, 2002), do cineasta argentino Gaspar Noé.

Algumas pessoas intitulam as perturbadoras imagens que recheiam o segundo trabalho de Gaspar Noé de violência gráfica. Outros preferem chamá-las de violência extrema. O rótulo não importa. É fato que o cinema ainda tivera coragem para exibir imagens tão explícitas, tão chocantes, tão impressionantes, até que o diretor ousou fazê-lo. Por causa disso, “Irreversível” foi recebido entre tapas e beijos pela crítica. Alguns amam, outros odeiam, mas ninguém sai imune de uma sessão deste longa-metragem.

Noé tomou algumas liberdades pouco comuns, como iniciar as filmagens com um roteiro de apenas três páginas, estimulando ao máximo os improvisos dos atores do filme (em determinada cena, ao ser apresentado a uma pessoa, o protagonista responde que seu nome é Vincent, nome real do ator). O linguajar coloquial e a fluidez dos diálogos estimulam a platéia a encarar o filme como uma experiência informal, bem próxima da vida real.

Além disso, o diretor preferiu filmar no formato 16mm (as câmeras profissionais utilizam uma bitola mais larga, de 35mm), para poder usar um equipamento mais leve. Com isso, Noé passou a ter liberdade para filmar em locações reais, com a câmera na mão, e fotografar todo o filme em tomadas longas, de forma a criar grandes blocos narrativos sem cortes. Tudo isso funciona a favor do planejamento do diretor, pois mergulha o filme em um ambiente extremamente realista: as ruas e o submundo gay de Paris. As duas seqüências-chave acontecem em um clube sadomasoquista e em uma passagem subterrânea da capital francesa.

Tudo isso pronto, e Gaspar Noé foi filmar então as duas cenas mais polêmicas. Muita gente abandona a projeção na metade, a maioria chorando e/ou enjoada. Que atire a primeira pedra quem não vira o rosto ou fecha os olhos, ao menos durante alguns momentos das longas seqüências.

O esmero técnico e narrativo de Gaspar Noé é tão grande que não pára por aí. Ele montou todo o filme em ordem cronológica inversa, de trás para a frente, como em “Amnésia”, mas de forma ainda mais radical (até mesmo os créditos aparecem no início). Além disso, o objetivo de atordoar e deixar a platéia desconfortável é perseguido com tal afinco que a câmera manual utilizada na primeira e longuíssima seqüência, que tem mais de 30 minutos e mostra os dois homens entrando num clube gay para procurar o estuprador, simplesmente não permite compreender com clareza qual o eixo vertical e qual o horizontal. Em outras palavras, a platéia é colocada na mesma posição (e sensação) da dupla, que vê tudo rodar, como alguém com tontura.

Em outro requinte de crueldade, Noé acompanha o balançar da câmera com um ruído baixo e grave, semelhante a um ronco, gravado na freqüência de 28 Hz. Se exposto a essa freqüência durante algum tempo, um homem pode ser acometido de náuseas e tontura. Por isso, há um motivo fisiológico para que a platéia do filme fique realmente nauseada com as imagens violentíssimas que vai presenciar, após o bombardeio de meia hora de imagens tremendo, luzes estroboscópicas girando (tudo acontece dentro de uma boate, lembre-se) e um ruído surdo que incomoda até a alma.

Agora, as perguntas que não querem calar: que tipo de reflexão um filme desse tipo pode gerar? Há alguma mensagem na tortura consentida a que o espectador se propõe assistir, quando compra um ingresso para “Irreversível”? A meia hora final, que abandona as experiências radicais para apresentar diálogos e situações que evocam idéias existencialistas (as idéias de Albert Camus parecem particularmente pertinentes), justificam intelectualmente o show de horrores da primeira parte do filme?

São perguntas complicadas de responder. Os méritos cinematográficos de Gaspar Noé são inquestionáveis, mas a proposta ética e estética permite muitos questionamentos. Por tudo isso, muita gente sai do cinema pensando que “Irreversível” não passa de um filme gratuito e vazio, enquanto outros acreditam que as reflexões a respeito do slogan defendido pelo filme – “o tempo destrói tudo” – são pertinentes.

Isso faz parte da magia do cinema: cada espectador aplica suas próprias experiências de vida às imagens que aparecem na tela e as traduzem para um repertório particular de causas e efeitos existenciais. Dessa forma, o filme pode fazer sentido para você – ou não. De um jeito ou de outro, trata-se de uma experiência perturbadora.

Texto retirado do site Cine Repórter ( www.cinereporter.com.br ) escrito por Rodrigo Carreiro